Quais os principais obstáculos à transferência e valorização do conhecimento entre entidades do SI&I e as empresas?
As características dos territórios e dos seus sistemas de inovação, a capacitação humana e tecnológica dos promotores, o foco nos mercados internacionais e os projetos participados por várias entidades do sistema de inovação, emergem como fatores potenciadores da eficácia dos processos de TVC.
Em contrapartida, o clima macroeconómico, a par das deficiências (sistémicas) no sistema de inovação, as diferenças de cultura organizacional nos diferentes tipos de entidade e a falta de alinhamento entre investigação científica e necessidades das empresas, são os principais condicionamentos à produção de resultados da TVC.
É também evidente a insuficiência de instrumentos específicos de promoção da TVC, bem como de abordagens temáticas e regionalmente diferenciadas. Por exemplo, não existe em Portugal um bom sistema de apoio à realização de doutoramentos em empresas ou à inserção de doutorados nas empresas. Não existem vias verdes de apoio à industrialização de projetos de I&D. Não existe um bom sistema de apoio a provas de conceito e à validação (económica) do potencial de valorização de projetos de I&D. Não existem contratos programa dirigidos a TTOs/OTICs.
Como se encontra Portugal no panorama internacional?
Os resultados do technology push das últimas décadas posiciona bem Portugal em termos internacionais, revelando o progresso alcançado na produção científica pelas principais universidades e entidades de I&D (e.g. número de publicações indexadas na Web of Science, número de publicações em coautoria com instituições estrangeiras).
Olhando para o quadro mais alargado da inovação, a realidade é diferente. No European Innovation Scoreboard, Portugal afirma-se há vários anos como um inovador moderado, sem evoluções significativas. As nossas principais fraquezas são: baixo investimento em I&D pelas empresas, reduzido cofinanciamento privado da I&D pública, baixa cooperação das PME com outras entidades em processos de I&D, reduzido peso do emprego em indústrias de média e alta tecnologia, falta de capital de risco, reduzida utilização de patentes e baixo impacto da inovação sobre as vendas das empresas.
Quais as soluções para mitigar o fosso entre o SI&I e as empresas?
É necessário “democratizar” mais o sistema de inovação, potenciando a aproximação entre o mundo científico e as empresas, nomeadamente as PME. Isso faz-se com instrumentos simplificados como os Vales I&DT (Investigação e Desenvolvimento Tecnológico), com demonstração e disseminação de resultados de I&D, com a capacitação de recursos humanos nas empresas, etc.
Importa também estimular uma maior colaboração entre stakeholders do processo de TVC: o “mundo científico” (onde os entendimentos da gestão de topo se afiguram distintos entre si), o “mundo empresarial” (com valorizações diferentes das relações com a academia) e os “atores intermediários da inovação" (que devem mitigar dificuldades de articulação entre a academia e a sociedade). A aposta nos projetos de I&D em co-promoção, bem como os individuais, são bons recursos para potenciar mais a colaboração entre empresas e entre estas e as entidades não empresariais do sistema de I&I (Investigação e Inovação).
Ao nível da valorização, precisamos de criar ou melhorar instrumentos de apoio específicos, seja dirigidos a provas de conceito, a Gabinetes de Apoio à Promoção da Propriedade Industrial (GAPI) ou a start ups tecnológicas.
Agendas temáticas claras e prioritárias, uma maior integração entre apoios nacionais e europeus e projetos estruturantes que envolvam os grandes players internacionais que dominam as cadeias de valor globais, são também parâmetros fundamentais a ter em conta.
Qual o papel do apoio dos fundos da União Europeia?
Os instrumentos para a TVC apoiados pelo QREN e pelo Portugal 2020 têm apostado na melhoria da capacidade de atuação do “mundo científico”, do “mundo empresarial” e do “mundo dos intermediários da inovação” isoladamente, mas também do modelo interativo de inovação.
Na avaliação realizada, contabilizaram-se apoios no período QREN a 8.047 projetos potencialmente ligados à TVC, com um investimento total associado de 8,3 mil milhões de euros e um incentivo aprovado de 3,7 mil milhões de euros. São valores muito relevantes, com impacto significativo na despesa em I&D+I nacional e na capacidade para criar e desenvolver novos produtos, serviços, processos e soluções. Estes valores deverão aumentar no PT2020, criando uma realidade sem paralelo em períodos anteriores de programação.
No entanto, o grande desafio para o futuro é aumentar a eficácia dos apoios na TVC. Para isso, é fundamental a manutenção de políticas efetivas de base nacional e regional cofinanciadas por fundos da União Europeia.
Consulte o estudo de Avaliação do contributo dos FEEI para as dinâmicas de transferência e valorização de conhecimento, realizado pela EY - Auguto Mateus & Associados, no âmbito do Plano Global de Avaliação do Portugal 2020:
Consulte também os resultados de outras avaliações já realizadas.
A AD&C tem por missão coordenar os fundos da União Europeia e contribuir para o desenvolvimento regional.