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FFMS | Como são os Portugueses?

Jan 18, 2021 | Notícias

Um retrato atual do país: quais as características gerais dos portugueses? Que conclusões se podem tirar do presente para o futuro de Portugal?

 

A globalização e a digitalização tornaram-nos mais periféricos ou aproximaram-nos do centro do mundo? A baixa produtividade é culpa dos Portugueses ou de Portugal? Somos mais qualificados e temos melhores infraestruturas, mas entrámos devagar na era digital e na nova era da globalização. A desigualdade é grande e persistente, e o sítio onde vivemos continua a ser mais importante do que o curriculum vitae. A dívida alta e a poupança baixa sugerem que damos muito valor ao presente. Mas podem também indicar que ainda acreditamos no futuro.

 

Saiba mais, consultando a publicação da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) “Como são os Portugueses?” da autoria de Fernando Alexandre.

Aceda também à respetiva Infografia.

 

Principais Conclusões

 

Podem resumir‑se assim as conclusões deste ensaio sobre os Portugueses:

 

  • Dos contrastes geográficos assinalados por Orlando Ribeiro, a divisão entre o litoral e o interior é a que hoje se mantém mais atual. No litoral, destacam‑se as grandes áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, que concentram 45% da população e representam cerca de 50% da capacidade produtiva nacional.

 

  • A centralização do poder foi essencial para a integridade territorial do país e para a criação da identidade nacional. Hoje, a centralização do poder e as persistentes assimetrias regionais levantam desafios à coesão do país. As assimetrias de rendimento entre a Área Metropolitana de Lisboa e as restantes regiões do país são muito marcadas.

 

  • A posição geográfica, a escassez de recursos naturais e a exiguidade do mercado constituem obstáculos ao desenvolvimento económico. A impossibilidade de conjugar a soberania nacional às relações comerciais regulares com Espanha empurrou Portugal, desde o século XV, para o Atlântico. A Inglaterra foi, durante séculos, o principal parceiro comercial de Portugal.

 

  • Com a entrada na CEE em 1986, a Espanha tornou‑se o principal mercado das exportações portuguesas.

 

  • Com a adesão à CEE e o acesso aos fundos europeus, com o aumento das importações e o acesso ao crédito bancário, os Portugueses tornaram‑se mais parecidos com os restantes Europeus.

 

  • A revolução das TIC e a redução dos custos de transporte deu um novo impulso à globalização, reduzindo a importância da geografia. No entanto, Portugal manteve‑se afastado das grandes cadeias de produção e de distribuição globais.

 

  • Um trabalhador em Portugal, por hora de trabalho, produz cerca de metade do valor produzido por um trabalhador na Alemanha. Este diferencial na produtividade em relação à Alemanha manteve‑se praticamente inalterado desde 1995.

 

  • As projeções demográficas do INE apontam para um acelerado envelhecimento e para uma diminuição da população. Uma população mais envelhecida tenderá a ser mais resistente à mudança e à inovação, o que pode ser um obstáculo ao aumento da produtividade.

 

  • Mais inovação e mais investimento nas qualificações dos trabalhadores serão essenciais para compensar os efeitos negativos da redução e do envelhecimento da população. Paradoxalmente, o desemprego jovem continua a ser muito elevado.

 

  • A baixa produtividade dos Portugueses é também explicada pelo reduzido stock de capital que os trabalhadores têm à sua disposição.

 

  • A combinação de investimento em TIC e qualidade de gestão é um elemento‑chave para o aumento da produtividade. A qualidade de gestão em Portugal continua a apresentar debilidades.

 

  • A concentração do emprego em setores de baixa intensidade tecnológica e, assim, com fraco potencial de criação de valor acrescentado contribui para a baixa produtividade relativamente à Alemanha e à média da UE.

 

  • Há duas condições necessárias para ser competitivo e gerar valor numa economia globalizada: ter ligações a centros tecnológicos ou universidades e desenvolver produtos para o mercado mundial.

 

  • Os rankings internacionais têm hoje enorme importância na definição da imagem internacional dos países e da imagem que os países têm de si próprios. A imagem de Portugal tem melhorado e é mais realista.

 

  • A elevada incidência da pobreza nas crianças, jovens e idosos é mais difícil de combater numa economia estagnada ou com baixo crescimento. Portugal é também um dos países mais desiguais da UE.

 

  • Num contexto de baixa mobilidade social, como acontece em Portugal, nascer numa família económica e socialmente desfavorecida é praticamente uma condenação. O grau de mobilidade social determina, em grande medida, a esperança que os membros de uma sociedade têm no futuro.

 

  • Ao longo das últimas décadas, os Portugueses acumularam uma das maiores dívidas do mundo em percentagem do PIB. O aumento da dívida coincidiu com uma queda da poupança, que no século XXI se tornou uma das mais baixas da UE.

 

  • A dívida alta e a poupança baixa podem ser lidas como uma excessiva valorização do presente. A excessiva valorização do presente conduz, em muitos casos, a uma poupança insuficiente para o futuro. A dívida elevada e a baixa poupança tornam as famílias mais vulneráveis a choques como a crise das dívidas soberanas em 2011 ou a pandemia de Covid‑19.

 

  • O elevado endividamento e a baixa poupança também podem ser explicados pela confiança das famílias no futuro. A confiança no futuro é uma condição para a melhoria das condições de vida e para a melhoria do país.

 

  • A perda de confiança no futuro é uma das causas da emigração. A emigração mostra que os Portugueses não desistem de melhorar a sua vida. Mas mostra a sua desistência em mudar o país.

 

  • Enquanto os Portugueses, em particular os jovens mais qualificados, continuarem a emigrar, Portugal continuará a viver abaixo das suas possibilidades. Não será apenas uma falha da economia. Será também uma falha da nossa democracia.

Fonte: FFMS/MC